sexta-feira, 28 de março de 2014

QUEM É QUEM DAS RUAS E PRAÇAS DE SALVADOR- 7

Na postagem anterior tratamos de três ruas como que conjugadas entre si, no caso,
 as ruas de Fora, de Dentro e do Meio. Todas elas se inclinam para cima em direção ao Bonfim. Esta é bem a expressão “se inclinam”, desde que em relação ao nível do mar elas têm uma elevação de 16 metros.

O mapa faz indicação das Ruas de Fora, de Dentro e do Meio. Todas elas se dirigem à Baixa do Bonfim. Dai em relação ao nível do mar são 16 metros. Lá em baixo está a Enseada de Itapagipe. É alcançada através a Ladeira do Porto do Bonfim:

Ladeira do Porto do Bonfim

Agora estamos na hoje Praça Divina que de "divina" não tem nada. Poucas árvores, nenhum banco, nada enfim. Chega a ser um local insosso. Não o é totalmente porquê a vista é maravilhosa.
Praça Divina

Anteriormente chamava-se Porto do Bonfim e efetivamente o era. Nele aportavam antigos saveiros vindos do Recôncavo e das Ilhas. O objetivo era uma feira que funcionava no local entre sesta-feira de noite e a manhã de domingo. Nela vendia-se farinha de copioba de Nazaré das Farinhas, carne do sol e sertão de Santo Antônio de Jesus; cerâmica de Maragogipe; peixes e mariscos da Ilha de Maré; frutas de Mar Grande, principalmente a sua manga. Já de relação às verduras essas vinham das hortas do Dique do Tororó e da Rua da Vala, hoje Baixa dos Sapateiros. 

Os belos saveiros de antigamente

Num dos lados da Praça Divina começa o Porto da Lenha. A rua inicial hoje é chamada Santa Fé, dando sequência ao mau gosto de seus autores. Quiseram ligar essas praças e ruas ao Senhor do Bonfim, mas não tem nada a ver. 

Rua de Santa Fé - Antigo Porto da Lenha

Continuação da Rua Santa Fé

Há de se notar a largura dessa praia. A faixa de limo é um  sinal de que o mar não chega mais até o cais. Tornou-se uma praia permanente, fruto da dragagem de areia para os Alagados do Porto dos Mastros.

A rua que segue chama-se Felipe Camarão, um índio nascido em Natal que se tornou famoso pelos estudos da língua portuguesa. Ao se dirigir a uma pessoa falava com um interprete, senão ninguém entendia. Pode?


Felipe Camarão

Rua Felipe Camarão - Muitos bares

O Porto da Lenha se liga com a colina do Senhor do Bonfim através uma das ladeiras mais íngremes da Bahia, a Ladeira da Lenha.

Ladeira da Lenha

Segundo muitos, o nome Ladeira da Lenha advém de reclamações dos escravos ao subi-la carregando nos ombros sacos de lenha. Diziam então: essa ladeira é uma lenha.

quinta-feira, 27 de março de 2014

QUEM É QUEM DE NOSSAS RUAS E PRAÇAS - 6

A Rua Visconde de Caravelas deveria prosseguir até a Baixa do Bonfim, mas assim não quis a população que, em certas ocasiões, ela própria denomina os lugares ao seu modo. É o caso da Travessa de Fora. Por que de fora? Simplesmente por que paralela a ela existe uma travessa que é conhecida como Travessa de Dentro e ainda tem outra que chamam Travessa do Meio  Começa na Rua da Paz ao lado do Largo do Papagaio e desemboca na Baixa do Bonfim. Todas elas ou a conjugação de todas dão na Baixa do Bonfim.
Neste caso deixaram de lado os nomes de políticos e nobres que nada têm a ver com o lugar.


 Travessas de Fora, de dentro e do meio acima sinalizadas

Travessa de fora

Travessa de dentro

Travessa do meio


Noutro mapa- mais nítido

quarta-feira, 26 de março de 2014

QUEM É QUEM DAS RUAS E BAIRROS DE SALVADOR - 5

Na parte interna da península corre duas vias de tráfego de ônibus e demais veículos. Uma sai do Largo da Ribeira e alcança o Largo da Madragoa. É a Lélis Piedade. Já identificamos essa pessoa. Foi um jornalista. A outra vai da Madragoa até o Largo do Papagaio e é conhecida como Rua Visconde de Caravelas. Este senhor chamava-se Carlos Carneiro de Campos. Era baiano. Foi Deputado à Assembléia Provincial da Bahia e senador por São Paulo. Foi também Ministro da Fazenda.


Visconde de Caravelas


Largo da Madragoa


Etimologicamente a palavra “madragoa” em tupi-guarani significa “viveiros de carangueijos”, um evidente sinal de que o mangue do Porto dos Mastros chegava até ali. Entretanto, há quem afirme que o nome Madragoa advém da existência no local de caranguejo chamado madragol. De uma forma ou de outra o mar chegava perto ou mesmo o largo era uma pequena ilha.

Também o Largo do Papagaio era antigamente um charco. O mangue do Porto dos Mastros  também  chegava até ele.

Largo do Papagaio

O nome do largo - Papagaio - segundo muitos, originou-se pela existência no local de muitos papagaios. 

Dentro desse panorama, podemos entender a ilustração adiante de como era a península de Itapagipe. Nada parecido com o que conhecemos hoje de como é a península.



Nada mais, nada menos, do que uma série de ilhas, aliás como quase afirma o sr. Alex Pereira em uma matéria publicada na internet:


Segundo esse senhor o Bonfim, por exemplo, era uma ilha. Achamos que não só o Bonfim, também o resto da península, em dando crédito à ilustração publicada  acima.




QUEM É QUEM DAS RUAS E LARGOS DE SALVADOR - 4

Até os anos 50 do século passado, a península possuía outra avenida “Beira Mar”. Chamava-se Rua Domingos Rabelo, mais conhecida como Av. Porto dos Mastros. Ela corria junto à Enseada dos Tainheiros que ali chegava até a altura do Largo do Papagaio e alcançava  o Bairro do Uruguai. Era de barro e plantas de mangue enfeitavam o seu entorno.

Foi por ai que aconteceu a invasão dos Alagados de Itapagipe em 1953 e escondeu o mar ou o afastou para longe onde corre o canal da ribeira próximo ao Lobato. 

Quem é quem de ruas e largos de Salvador tem obrigação de esclarecer que Domingos Rabelo foi um escritor português de renome. Certa ocasião fez uma exposição no Brasil. Já Porto dos Mastros, refere-se aos mastros de todas as embarcações que navegavam por ele. Eram muitas ontem como hoje.

Nos tempos atuais, a antiga Rua Domingos Rabelo se transformou em uma avenida de duas pistas. No sentido Largo do Papagaio – Porto dos Tainheiros tem como vista à direita  as paredes das casas dos Alagados de um lado; do outro, os velhos prédios que um dia foram belas casas à beira-mar de desiludidos veranistas que pensavam estarem no paraíso.

Rua Domingos Rabelo (Porto dos Mastros) em roxo
Av. Porto dos Mastros atual

terça-feira, 25 de março de 2014

QUEM É QUEM DE NOSSAS PRAÇAS E RUAS- 3

Após dobrar a Penha já estamos na Avenida Beira Mar que se estende até à Praça Divina, já perto do Bonfim. É só subir a ladeira.

 Mapa da região

Anteriormente, no século passado só a Praia do Bugari era uma praia permanente isto é, mesmo na maré cheia, ela permanecia quase intacta. As outras eram tomadas pelo mar que alcançava 3 a 4 metros no cais de sustentação. Pescava-se de cima desse cais siris e pequenos peixes, principalmente carapicu. Frito é uma delicia. À noite era a vez das agulhas. Eram atraídas pela luz de um fifó e abafadas com um jereré de cabo comprido.
Bugari do principio do século passado. Ainda não havia sido construída a atual Avenida Beira Mar. Duas grandes casas dominam o pedaço.

Bugari dos anos 2000- Ainda com as barracas

Hoje é uma praia pouco frequentada

Logo após o Bugari temos o Poço que se caracteriza pela existência no local de um peral. O peral é um espaço com boa profundidade que mesmo nas grandes marés de vazante permanece cheio. Já foi mais profundo - cerca de 3 metros, mas hoje está apenas com 1 metro de profundidade. Se faz necessário uma dragagem para restituir sua profundidade. Serve para atracação de dezenas de embarcações, a maioria pertencente a pescadores. 


Praia do Poço

Peral do Poço na maré baixa
Na sequência, temos uma praia que, antigamente (anos 50/60) não era perene. Quando a maré vinha de enchente, elas desapareciam e o nível do mar alcançava 2 a 3 metros do cais de sustentação.

Hoje é uma praia permanente.

Essa praia foi formada em consequência da dragagem de milhões de metros cúbicos de areia para aterrar os Alagados (1980/90). Técnicnamente não  houve essa intenção. Aconteceu! Também aconteceu nos Tainheiros em frente à garagem de remo do Vitória. Poderia ter havido uma calamidade. Certamente Senhor do Bonfim ajudou. De qualquer sorte, entretanto, moradores do local, dizem que o recuo do mar continua e as praias formadas pelo sistema de dragagem aumentam a cada dia. 


QUEM É QUEM DE NOSSAS PRAÇAS E RUAS - 2

Logo após a Ribeira bem na ponta, temos a Penha, também extraordinária. Uma pequena rua à beira-mar com três tamarineiros cobrindo todo seu espaço. (Rua dos Tamarineiros) Em baixo deles, comerciantes do local instalaram toldos onde o povo tinha um local para se sentar, comer um peixe frito muito próprio do local ou se deliciava com um acarajé ou abará. Um privilégio que muitos lugares gostariam de ter. 

Toldos da Penha

Ai veio a tal revitalização de Itapagipe e tiraram os toldos. Ficou assim:



Sem os toldos
Com a retirada dos toldos, foram embora as baianas de acarajé, do peixe frito e todos os bares e restaurantes do local estão fechando.

Como se tem dito aqui, o povo não está mais "ficando" em Salvador, processo que começou com a retirada das barracas de praia. Alega-se que as barracas ocupavam os espaços das praias. E os toldos, instalados acima da praia, que prejuízo causam? Prejuízo maior causou uma marina que se construiu numa das extremidade da Penha. Porque não a  demoliram. Vejam-na do alto:


Marina da Penha
Paredão

Como se nota, a tal da Marina da Penhas tirou toda a estética do local, bem como prejudicou grande parte da vista da Enseada dos Tainheiros.


 A foto acima mostra-nos a Penha em 1942 sem a tal da marina e já com os tamarineiros

Igreja da Penha

Sensacional foto da Igreja da Penha e inicio da Praia do Bugari







segunda-feira, 24 de março de 2014

QUEM É QUEM DE NOSSAS RUAS E PRAÇAS - 1

Pelo que sabemos, não há nenhum trabalho na internet sobre o significado dos nomes das ruas de Salvador de forma completa e ordenada. Só referências esporádicas principalmente quando os nomes são burlescos e chamativos. Não é o que se pretende neste trabalho. Almejamos algo mais abrangente como, por exemplo, a origem do nome, de quem se trata, etc., OU SEJA, QUEM É QUEM....

Vamos iniciar esse trabalho por uma das extremidades da Cidade como seja Itapagipe, bairro sumamente pitoresco, antigo, desde que tão logo Tomé de Souza chegou a Salvador,  designou Dias D'Ávila que se conhece como filho dele, para construir um curral e fazer uma olaria. 

Vista aérea de Itapagipe

Muito chamam esse lugar de Ribeira que nem a Ribeira das Naus em Portugal. A daqui poderia ser chamada Ribeira das Escunas e dos Catamarães, em razão do grande número dessas embarcações no local.

Mas, afinal, o que é uma Ribeira? Exatamente um curso de água, navegável ou não, entre margens próximas, maior que os regatos e riachos e menor que os rios.

É o que é exatamente a Ribeira  de Itapagipe. Um canal (curso de água) separando parte do subúrbio de Salvador (Santa Luzia, Lobato, Plataforma) de bairros do outro lado como sejam Uruguai, Porto dos Mastros, Tainheiros e Penha, ou seja, o que se considera como sendo Itapagipe.

Como se disse, mais precisamente em Lisboa, temos lá a Ribeira das Naus, onde antigamente se construía as naus portuguesas que descobriram o Brasil e navegaram por mares nunca antes navegáveis.

Ribeira das Naus em Portugal

Na Ribeira de Salvador lembramo-nos do Navio Estaleiro Araujo Pinho que ficava exatamente na Penha e que um dia um temporal arrancou de suas âncoras e arrastou-o até em frente a Igreja da Penha e hoje é apenas destroços: Levaram tudo!

Araujo Pinho
O que restou do Araújo Pinho

A principal via da Ribeira é a Avenida Mem de Sá que também se chama  Avenida Porto dos Tainheiros em alusão à prática da pesca de tainha por profissionais chamados “tainheiros”. Eram imensos os cardumes dessa espécie.

Avenida Mem de Sá (Porto dos Tainheiros)

Av. Mem de Sá - Antigamente


Tainheiro jogando sua tarrafa - Mangues à direita
Golfinhos na Ribeira - É verdade!

Além da Avenida Porto dos Mastros que desemboca na Ribeira, a principal via de acesso é a Rua Júlio David.
Rua Julio David - a seta indica a casa onde morou o Prof. Adroaldo Ribeiro Costa

Rua Lélis Piedade

Júlio David nasceu em Itapagipe no ano de 1837 e morreu em 15 de dezembro de 1921 em sua residência à Rua Mem de Sá, 49.

Notabilizou-se pelo fato de proteger os pobres e desvalidos, os quais recebiam do grande médico o exame clínico, o diagnóstico, a receita e dinheiro para avaliá-la. Lembra muito Dr. Ameriquinho Lisboa dos anos 45 a 60 do século passado.

Já Lélis Piedade foi um jornalista do Jornal de Noticias de Salvador. Notabilizou-se por denunciar os desmandos do exército, dos coronéis e até de médicos que se recusavam a atender às mulheres advindos da guerra de Canudos. Foi de sua iniciativa a criação do Comité Político Patriótico da Bahia, afim de prestar assistência beneficente a estas pobres criaturas.

No mais a Ribeira é sinalizada como tendo duas praças: a General Osório e a própria praça da Ribeira. Ambas, contudo, não se destacam em separado como se conhece de qualquer largo.